Na reunião pedagógica de ontem (28/05/09) lemos o texto abaixo. Ele foi escolhido porque vi que tem muito a ver com o que acontece na escola, principalmente a tendência de a reunião acabar se dirigindo para questões pontuais ao invés de ser um espaço de troca entre as pessoas envolvidas na educação.
Lemos o texto e discutimos:
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Reunião Pedagógica: que espaço é esse?
*Marcelo Cunha Bueno
Deve ser um espaço coletivo, individualizado, ou ambos? Deve ser um espaço de reflexões ou de ações? Um espaço onde o pedagógico prevalece, ou o administrativo? Um espaço apressado ou vagaroso, generoso ou autoritário, burocrático ou dinâmico, de diferenças ou igualdades, de consenso ou de dissenso, de professores ou de "tios e tias", de formação e cultura ou de saberes técnicos? Que espaço é esse, afinal? Questões que rondam as cabeças de muitos educadores pelas escolas a fora de nosso país.
Não restam dúvidas de que a escola deve ser um espaço de formação. Uma formação que amplie o compromisso de atender aos segmentos de ensino propostos, mas também atinja a formação continuada de professores. Professores precisam de orientação! São muitas funções e responsabilidades que lhes competem: estudantes, conteúdos, pais, mães, parceiros de trabalho, sem falar em planejamento, avaliação, registros e reuniões com os pais e mães. Ações que exigem um pensar mais vagaroso, um olhar compartilhado e companheiro.
Falar da prática em escola não é somente contar da rotina ou oferecer algumas ilustrações, é falar sobre o currículo ou proposta da escola. Nesse sentido, as reuniões pedagógicas são excelentes instrumentos de discussão sobre os diferentes discursos "falados" pela escola.
Durantes as reuniões de grupo, fala-se demasiadamente das práticas, pensa-se muito no fazer, mas pouco se pensa sobre o pensar. A reunião pedagógica é a cara que a escola resolveu mostrar aos professores. Nela, devem ser discutidas questões que reflitam os conteúdos e papel que a mesma desempenha para as famílias que atende. A reunião é espaço de encontro, de escuta, de trocas e de transformação. Informações que viram conhecimentos, palavras que viram documento, vivências que viram experiências, e planos que se concretizam.
As reuniões pedagógicas são responsáveis por formar um professor que fale com propriedade do que a escola pensa. Devem ser um espaço de debate e articulação clara entre as questões administrativas e as pedagógicas. É fundamental esclarecer quais são os aspectos que podem ser influenciados pelos dois campos para que se evitem discursos trocados e argumentos atravessados. Devemos transformar o espaço de reunião pedagógica em, efetivamente, pedagógico, ou seja, transformador, de educação.
Devemos perseguir a formação, a transformação, o grupo, a indagação e os desafios colocados por nossa profissão. Sejam quais forem as caras que a sua reunião pedagógica tenha, uma coisa não se deve abrir mão: da generosidade de falar aos ouvidos daqueles que escutam as suas palavras, pois, no mínimo, o que se ganha com esses espaços é o tempo, que constrói uma cultura coletivizada de um grupo de educadores. Reunião pedagógica é espaço de implicação!
*Marcelo Cunha Bueno é diretor pedagógico da Escola Estilo de Aprender.
Disponível em http://www.aomestre.com.br/cll/V80_reuniaop.htm
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Eu havia pensado em algumas questões que tornassem a reunião mais produtiva e motivadora para todas, pensando nas responsabilidades individuais e coletivas. Por isso, montei uma lista de combinados que acreditei que expressassem as expectativas de todas em relação à reunião. Li a lista e ouvi as professoras, que concordaram com todos os pontos da lista:
Combinados em relação à reunião pedagógica:
• As reuniões pedagógicas têm a duração de duas horas: das 17:15 às 19:15. A participação das professoras e assistentes é obrigatória, pois além de fazer parte do contrato de trabalho, proporciona tempo e espaço de reflexão e aprimoramento profissional. Temos tido faltas, atrasos e saídas antecipadas, o que prejudica o trabalho pedagógico.
• O principal objetivo da reunião pedagógica é a formação continuada dos professores e assistentes, através da reflexão sobre a prática pedagógica informada pela formação das professoras, pelo apoio da coordenadora e pelo estudo de textos que contribuam com a construção de novos conhecimentos por cada professora individualmente e pelo grupo como um todo.
• Para alcançar esse objetivo lançaremos mão de uma série de estratégias, tais como: a leitura de livros, artigos e outros textos relacionados aos temas que desejamos tratar; a apresentação de trabalhos realizados pelas professoras com seus alunos, umas às outras; visionamento de vídeos relacionados aos mesmos temas; análise de atividades realizadas pelas crianças; produção de material escrito; produção de material didático, etc.
• Não vamos mais discutir nessas reuniões questões corriqueiras, pois desperdiçam um tempo dedicado à formação. Questões individuais devem ser tratadas diretamente com a direção, a coordenação, a secretaria (Melina), a manutenção (Alexandre), a limpeza (Nivalda, Lucineide), a organização de materiais e de espaços coletivos (Fabiana). Se não forem resolvidas, comunicar diretamente à direção.
• Todas têm o dever de participar e o direito de falar, expressando suas necessidades, dúvidas, certezas, aprendizados e vivências. Têm o direto de serem ouvidas, respeitadas em suas opiniões e conhecimentos, recebidas pelo grupo com amabilidade. E todas têm o dever de manter respeito e usar de cortesia e boa-educação, não interrompendo a colega que fala, colaborando para um clima de harmonia e cooperação.
Depois disso, lembrei que tínhamos acordado a entrega de um registro escrito, sobre tema à escolha de cada uma, mas que eu não tinha recebido esses textos. Por isso, propus um tema mais fechado: "O que eu, como profissional, espero da escola". As professoras dedicaram algum tempo à escrita desse registro, e depois conversamos sobre as expectativas que a escola coloca sobre elas como profissionais. A lista do que elas acreditam que sejam essas expectativas ficaram assim:
Decicação; comprometimento; postura profissional; vontade de aprender; vontade de ensinar; bom desempenho nas funções; responsabilidade; parceria; cuidado co as crianças; cuidado com espaço físico; cuidado com material.
Acredito que temos um compromisso mútuo, de contribuir com a criação de um ambiente de trabalho gostoso e produtivo, e de melhorar constantemente como pessoas e profissionais. Se conseguimos cumprir este compromisso todos ganham: as crianças, as famílias, as professoras e a escola como um todo.
sexta-feira, 29 de maio de 2009
quinta-feira, 14 de maio de 2009
A importância do registro reflexivo na nossa formação
Na nossa reunião com as professoras do dia 07 de maio lemos e discutimos o texto "O papel do registro na formação do educador", de Madalena Freire, que está disponível no link http://www.pedagogico.com.br/edicoes/8/artigo2242-1.asp?o=r
Todas concordaram com a importância do registro para o processo de reflexão, mas a maior parte confessou que faz um "registro mental". Combinamos de passar esse registro mental para a forma escrita, pois a memória é seletiva: ela nos trai, nos faz esquecer certas coisas e lembrar outras, e como é individual, não pode ser acessada por outras pessoas, o que dificulta o trabalho em grupo.
Daí a proposta deste blog: mais do que um caderno de registro, espero que ele se transforme em uma ferramenta mais acessível a todo o grupo e mais democrática, pois permite que todas contribuam. Mas para dar certo, como tudo na vida, depende do engajamento e do envolvimento de todas, se constituindo em um espaço de troca de nosso grupo de professoras entre si e, quem sabe, até com outros grupos de professoras de outras escolas.
E por falar em grupo, na nossa próxima reunião, planejei discutir justamente a formação do grupo, o trabalho cooperativo e a equipe docente como um espaço de troca para crescimento mútuo. Tudo muito evidente na aparência, mas muito difícil de se viver no dia-a-dia.
Por isso, gostaria que vocês lessem antes da reunião o capítulo 5 do livro de Perrenoud "10 novas competências para ensinar". O título do capítulo é "Trabalhar em equipe". E a partir da leitura deste capítulo produzissem uma reflexão pessoal sobre suas competências ao trabalhar em equipe. Uma sugestão de roteiro para essa reflexão poderia incluir uma ou mais questões abaixo:
1) Quais os motivos que justificam que eu trabalhe em equipe?
2) Quais os níveis de partilha em que eu me envolvo na escola (partilha de recursos; partilha de idéias; partilha de práticas; partilha de alunos)?
3) Como é minha participação e sua cooperação nos projetos institucionais e nas atividades comuns (como eventos e festas)?
4) Eu assumo a liderança do grupo em alguns momentos? Como? por que?
5) Sabendo que o conflito é inerente à interação, como eu administro os conflitos que surjam?
Há uma lista na sala de professoras para saber quem já tem este livro e quem tem interesse em adquiri-lo. Não esqueçam de anotar sua opção.
Bom trabalho!
Selma
Todas concordaram com a importância do registro para o processo de reflexão, mas a maior parte confessou que faz um "registro mental". Combinamos de passar esse registro mental para a forma escrita, pois a memória é seletiva: ela nos trai, nos faz esquecer certas coisas e lembrar outras, e como é individual, não pode ser acessada por outras pessoas, o que dificulta o trabalho em grupo.
Daí a proposta deste blog: mais do que um caderno de registro, espero que ele se transforme em uma ferramenta mais acessível a todo o grupo e mais democrática, pois permite que todas contribuam. Mas para dar certo, como tudo na vida, depende do engajamento e do envolvimento de todas, se constituindo em um espaço de troca de nosso grupo de professoras entre si e, quem sabe, até com outros grupos de professoras de outras escolas.
E por falar em grupo, na nossa próxima reunião, planejei discutir justamente a formação do grupo, o trabalho cooperativo e a equipe docente como um espaço de troca para crescimento mútuo. Tudo muito evidente na aparência, mas muito difícil de se viver no dia-a-dia.
Por isso, gostaria que vocês lessem antes da reunião o capítulo 5 do livro de Perrenoud "10 novas competências para ensinar". O título do capítulo é "Trabalhar em equipe". E a partir da leitura deste capítulo produzissem uma reflexão pessoal sobre suas competências ao trabalhar em equipe. Uma sugestão de roteiro para essa reflexão poderia incluir uma ou mais questões abaixo:
1) Quais os motivos que justificam que eu trabalhe em equipe?
2) Quais os níveis de partilha em que eu me envolvo na escola (partilha de recursos; partilha de idéias; partilha de práticas; partilha de alunos)?
3) Como é minha participação e sua cooperação nos projetos institucionais e nas atividades comuns (como eventos e festas)?
4) Eu assumo a liderança do grupo em alguns momentos? Como? por que?
5) Sabendo que o conflito é inerente à interação, como eu administro os conflitos que surjam?
Há uma lista na sala de professoras para saber quem já tem este livro e quem tem interesse em adquiri-lo. Não esqueçam de anotar sua opção.
Bom trabalho!
Selma
quinta-feira, 7 de maio de 2009
Uma teia de educação e formação
"Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho. Os homens se educam em comunhão" (Paulo Freire)
Essa é uma das minhas frases favoritas, do meu teórico e educador favorito: Paulo Freire. Compreendida no conjunto de sua obra e de sua biografia, demonstra a humildade e a coragem de ousar um sonho coletivo, em que a participação de todos é essencial na construção de um projeto. Lembro-me de outra frase que expressa essa idéia, esta de Raul Seixas: "Sonho que se sonha só é sonho que se sonha. Só. Sonho que se sonha junto é realidade".
Na educação tem que ser assim: enquanto nos fecharmos em casulos, pouco conseguiremos. Precisamos aprender com o outro, pois é na diversidade de idéias, experiências e conhecimentos que se constrói um trabalho melhor.
Este, porém, é o maior desafio: aprender a con-viver, a aceitar o outro, principalmente quando ele pensa, age ou vive de um modo diferente do nosso. Assim como as crianças, que caminham do egocentrismo para a interação no mundo, nós também precisamos relativizar nossos pontos de vista para podermos ouvir, ver e perceber outros pontos de vista diferentes do nosso. Como bem diz Juliana Davini*:
"Ao aprendermos a ampliar nosso olhar, descortinamos o véu, nos deparamos com nosso mundo interno, repleto de imagens e possibilidades, desvelamos nosso ser sensível que pensa, sente, olha, arrisca, escolhe, cria e recria. Mas só nos dispomos a sair do nosso ângulo de visão quando a chegada do outro nos causa curiosidade, simpatia ou impacto, fazendo-nos pensar, sentir, sair do ligar. Muitas vezes, este movimento geral mal-estar, podendo nos levar ao fechamento dentro de nós mesmos, ou seja, a resistir à mudança, ao novo conhecimento. Por isso, é na 'boa' relação com o outro, no caso o educador, que se dá a aprendizagem verdadeira: aquela na qual tanto o sujeito como os objetos de conhecimento são transformados".
Por isso, este blog é um convite. Convite às professoras para participarem da reflexão sobre seu próprio trabalho, cooperativamente, em uma teia em que cada um tece alguns fios. Compartilhando nossas experiências, dúvidas, dificuldades e vitórias poderemos construir novos conhecimentos e novas competências que nos ajudem a evoluir como pessoas e como profissionais.
E para dar um pontapé inicial, partiremos da reflexão sobre nossa prática apoiadas na leitura do livro "10 novas competências para ensinar", de Philippe Perrenoud. Outras leituras que forem surgindo serão compartilhadas também, para crescimento mútuo.
Espero que possamos construir essa teia em conjunto, aprendendo umas com as outras. Boas vindas!
Selma
Referência:
DAVINI, Juliana. Preocupações de um grupo de formadores. In: FREIRE, Madalena (org). Grupo: indivíduo, saber e parceria: malhas do conhecimento. 3a ed. São Paulo, Espaço Pedagógico, 2003
Essa é uma das minhas frases favoritas, do meu teórico e educador favorito: Paulo Freire. Compreendida no conjunto de sua obra e de sua biografia, demonstra a humildade e a coragem de ousar um sonho coletivo, em que a participação de todos é essencial na construção de um projeto. Lembro-me de outra frase que expressa essa idéia, esta de Raul Seixas: "Sonho que se sonha só é sonho que se sonha. Só. Sonho que se sonha junto é realidade".
Na educação tem que ser assim: enquanto nos fecharmos em casulos, pouco conseguiremos. Precisamos aprender com o outro, pois é na diversidade de idéias, experiências e conhecimentos que se constrói um trabalho melhor.
Este, porém, é o maior desafio: aprender a con-viver, a aceitar o outro, principalmente quando ele pensa, age ou vive de um modo diferente do nosso. Assim como as crianças, que caminham do egocentrismo para a interação no mundo, nós também precisamos relativizar nossos pontos de vista para podermos ouvir, ver e perceber outros pontos de vista diferentes do nosso. Como bem diz Juliana Davini*:
"Ao aprendermos a ampliar nosso olhar, descortinamos o véu, nos deparamos com nosso mundo interno, repleto de imagens e possibilidades, desvelamos nosso ser sensível que pensa, sente, olha, arrisca, escolhe, cria e recria. Mas só nos dispomos a sair do nosso ângulo de visão quando a chegada do outro nos causa curiosidade, simpatia ou impacto, fazendo-nos pensar, sentir, sair do ligar. Muitas vezes, este movimento geral mal-estar, podendo nos levar ao fechamento dentro de nós mesmos, ou seja, a resistir à mudança, ao novo conhecimento. Por isso, é na 'boa' relação com o outro, no caso o educador, que se dá a aprendizagem verdadeira: aquela na qual tanto o sujeito como os objetos de conhecimento são transformados".
Por isso, este blog é um convite. Convite às professoras para participarem da reflexão sobre seu próprio trabalho, cooperativamente, em uma teia em que cada um tece alguns fios. Compartilhando nossas experiências, dúvidas, dificuldades e vitórias poderemos construir novos conhecimentos e novas competências que nos ajudem a evoluir como pessoas e como profissionais.
E para dar um pontapé inicial, partiremos da reflexão sobre nossa prática apoiadas na leitura do livro "10 novas competências para ensinar", de Philippe Perrenoud. Outras leituras que forem surgindo serão compartilhadas também, para crescimento mútuo.
Espero que possamos construir essa teia em conjunto, aprendendo umas com as outras. Boas vindas!
Selma
Referência:
DAVINI, Juliana. Preocupações de um grupo de formadores. In: FREIRE, Madalena (org). Grupo: indivíduo, saber e parceria: malhas do conhecimento. 3a ed. São Paulo, Espaço Pedagógico, 2003
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